Eça de Queirós, porquê?

   Eça de Queirós, no sentido e valor mais amplo que este nome pode adquirir, foi o tema escolhido pela organização do Segundo Festival de Teatro de São João da Madeira como fio condutor das peças de teatro levadas à cena na semana de 4 a 12 de Abril de 2008. Segundo Espaço Aberto, a forte contemporaneidade que as obras deste autor português possuem levou à sua inevitável escolha.

  Não foi imposto aos grupos de teatro uma regra: foi pedido, simplesmente, que incluíssem, de alguma forma, Eça de Queirós. Tinham, por sua vez, liberdade total para abordar o tema, o que, aliás, faz parte da criação artística.

   De facto, o espírito queirosiano envolveu tudo e todos durante a semana do Segundo Festival de Teatro e... fomos n’Eça.

N'Eças paragens...

                                     ... por Portugal


                                            

  1. Porto: Eça de Queirós nasce em 1845, na Póvoa de Varzim; estuda, a partir de 1955, no Colégio da Lapa, no Porto
  2. Aveiro: Passa parte da sua infância na casa dos seus avós paternos, em Verdemilho


  3. Coimbra: Ingressa na Universidade de Coimbra no ano de 1861 – aos 16 anos - para estudar Direito
  4. Lisboa: Em 1866, com 21 anos, inicia a publicação de folhetins na “Gazeta de Portugal”
  5. Leiria: Em 1870, ocupa o cargo de administrador municipal
  6. Évora: Funda e dirige o jornal “Distrito de Évora”



       ... pelo Mundo

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  1. Portugal
  2. Egipto: Visita o canal do Suez, em 1869
  3. Cuba: Cônsul em Havana – lugar que ocupou durante dois anos -, em 1872
  4. Estados Unidos da América: Em 1873, aos 28 anos, visita os EUA em missão do Ministério dos Negócios Estrangeiros
  5. Reino Unido (Inglaterra): Cônsul em Newcastle – 1874 e em Bristol - 1878
  6. França: Cônsul em Paris – 1888; cria e dirige a “Revista de Portugal”

As obras

1867

Évora

Distrito de Évora (páginas de Jornalismo)

1870

Leiria

"De Port-Said a Suez" (escrito após a sua viagem ao Egipto)

O Mistério da Estrada de Sintra (escrito em parceria com Ramalho Ortigão)

1871

Lisboa

Conferência do Casino

As Farpas

1874

Cuba

Singularidades de uma rapariga loira

1875

1877

Newcastle

O crime do Padre Amaro

"Cartas de Inglaterra"

Manuscrito de A Capital

1878

 

 

1879

1880

 

 

1883

1885

 

1886

Bristol

O primo Basílio

Manuscrito de A catástrofe

Manuscrito d'A tragédia da Rua das Flores

Manuscrito de O Conde d’Abranhos

No Moinho

Um poeta lírico

O Mandarim

Manuscrito de Alves & C.ª

Outro amável Milagre

Primeira versão de O suave Milagre

Prefácio de Azulejos e de O brasileiro Soares

1887

 

 

 

Manuscrito de O francesismo

Manuscrito da carta a Camilo Castelo Branco

A Relíquia

1888

 

1890

 

1891

1892

1893

Paris

Cartas de Fradique Mendes (n'O Repórter)

Os Maias

Uma campanha alegre (segunda edição de As Farpas)

Manuscrito de S. Cristóvão

Uma campanha alegre (segundo volume)

Civilização

Frei Genebro

O Tesouro

1894

1895

1896

1897

 

 

A Aia

In Memoriam de Antero de Quental

O defunto

A perfeição

José Matias (na Revista Moderna)

A ilustre casa de Ramires (na Revista Moderna)

Adaptado do site www.feq.pt

A situação do teatro em Portugal

  Eça de Queirós marcou, indubitavelmente, a história da literatura portuguesa. Por inúmeras razões: a excelência da sua escrita, o realismo perfeito das suas descrições, a sua sagaz ironia, a forma como denunciou a sociedade fútil em que viveu e, actualmente, pela "infeliz" contemporaneidade dos seus textos. De facto, é motivo de admiração (e também de receio) parecer-nos que este escritor do século XIX possuía um telescópio apontado para o futuro. Como esta hipótese é pura fantasia, teremos de admitir que o país não mudou muito em pouco mais de 100 anos, comprovando, portanto, a actualidade de Eça. 

  Em "Uma Campanha Alegre", é possível encontrar uma reflexão deste escritor sobre o estado do teatro em Portugal. Lendo apenas umas cinco linhas, reconhecemos diversas semelhanças com o estado actual desta arte. Com plena consciência desta situação, Espaço Aberto reuniu num pequeno texto as ideias chaves do referido comentário queirosiano. Lido antes de todas as peças de teatro levadas à cena na semana do Segundo Festival de Teatro, este texto é um misto de desabafo e de esperança de que, tendo o público consciência do que nos assemelha ao século XIX, possamos mudar o Estado da Arte Teatral no nosso país.


Novembro, 1871,

            O Teatro em Portugal vai acabando. Por dois motivos. Primeiramente pelo abaixamento geral do espírito e da inteligência entre nós: e depois pelas condições industriais e económicas dos teatros.

            O outro motivo da decadência dos teatros: a pobreza geral. Não há dinheiro. Lisboa é uma terra de empregados públicos. A carestia da vida, os altos alugueres, o preço do fato, tudo isto deixa a bolsa cansada, incapaz de teatros. O teatro é caro. Por consequência a afluência aos teatros é pequena. Daí dívidas, complicações e falências.

           Tal é o perfil do estado geral dos nossos teatros, a largos traços.

            Perante esta situação ocorre naturalmente esta pergunta: qual é a atitude do Estado, respectivamente aos teatros?

            É esta:

            O Governo não dá nada aos teatros nacionais;

            E dá 25 contos a S. Carlos!

            O teatro nacional que tenha um subsídio, se torne uma escola, um centro de arte, um elemento de cultura. Só isto é o senso, a verdade, a dignidade.


   

Arte


A arte oferece-nos a única possibilidade de realizar o mais legítimo desejo da vida - que é não ser apagada de todo pela morte.
                                        Eça de Queirós